quinta-feira, 30 de junho de 2011

Fala por mim

"Se escrevo, eu estendo pra você uma ponte, seja você um critico ou um leitor comum. Nessa hora, é como se eu dissesse: 'Venha'. A palavra é uma ponte através da qual eu tento conseguir o amor do próximo. Eu sempre digo que mais importante do que a compreensão é o amor. Eu prefiro ser amada do que compreendida. A compreensão é muito dificil." 
 
Lygia Fagundes Telles


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Que Iemanjá proteja meu bem..

O mar estava dando ondas gigantes, dessas que surfistas adoram e eu estava sentada na areia olhando minha prima.
- Ei Karol! - Fernando chamou correndo com a prancha debaixo do braço, tropeçou mas não perdeu o pique, nem o charme.
 - Oi Nando. - respondi rindo. - Pensei que você não ia surfar hoje.
- Não vou. - olhei para a prancha e ele riu. - Você é quem vai.
- Sem chances. - falei assim que ele concluiu a frase.
- Karol.
- Não Fernando.
- Karoline. - ele disse sério e eu parei. - Deixa de drama. Confia em mim. - ele pediu e eu estremeci, confia em mim.
- Ok.
Ele colocou a prancha no chão e começou a me explicar, como ficar em pé, como remar, como re-amar, como amar e eu parei de prestar atenção no que ele dizia e passei a prestar atenção nele. Fernando era alto e magro, o cabelo castanho ia clareando progressivamente até chegar a um louro mel nas pontas, coisas do surf, apesar de bem magro tinha o corpo definido, não entendia como ele podia ser tão tímido e tão inseguro, embora eu não gostasse dessas coisas achava aquilo fascinante nele. Fazia parte dele. Os olhos verdes e grandes dele se destacavam mais ainda pelo tom bronzeado da pele. Ele era o charme em pessoa, com ou sem os óculos de grau que ele odiava mas eu achava lindo.
- Entendeu? - Nando perguntou e eu me assustei.
- Am? Ah, claro. - Mentira, eu não havia prestado atenção em metade das coisas que ele disse.
- Ok, vamos pra água. - Tudo bem, sem pânico, sem pânico.
- Fernando.. você está esquecendo um detalhe. - Ele olhou confuso pra mim. - Não sei nadar.
- Confia em mim. - Ele disse de novo e eu tremi. - Você confia?
- Confio. - Respondi e a mim pareceu tão sincero que senti o peso daquilo sair de mim. Confiaria minha vida a ele, o que ele quisesse. Fernando tirou a camisa branca e deixou na areia do lado do meu par de havaianas, ele me olhou esperando que tirasse meu vestido e tirei. Fernando sorriu e desviou os olhos, parecia tão impuro pra ele quanto eu achava ficar olhando o corpo de alguém, mas uma fofura dele que eu adorava. - Vamos?
- Aham. - Fomos juntos pra água e ele me entregou a prancha, colocou a tornozeleira em mim e me mostrou como furar a onda e eu fui, uma ótima aluna, meu cabelo foi pra trás e achei graça disso. - Vamos lá Karol, você precisa se concentrar. - Ele pediu e eu voltei minha atenção pro mar. - Rema Karol. - eu comecei a remar e ele ia junto comigo nadando do meu lado. Paramos um pouco depois de onde as ondas se formavam e ele me olhava ali com uma carinha fofa. - Karol...
- Hm?
- Você confia mesmo em mim? - Ele perguntou aqueles olhos verdes dele encarando fortemente os meus castanhos e eu tremi sem sentir frio mais uma vez. Eu queria gritar que confiava mais do que já tinha confiado em qualquer um na face da Terra e que confiava tanto que chegava a duvidar de tanto que confiava, Fernando me olhou nos olhos e pegou na minha mão em cima da prancha. - Confia?
- Confio. - sentia as minhas bochechas ficando vermelhas e os olhos dele devorando todas as minhas expressões.
- Eu tô cansado de nunca ser a pessoa direta, de nunca ter coragem de fazer ou dizer coisas que podem ser importantes e eu confio tanto em você que não sinto medo de que você vá embora. - ele ia dizendo e não largava a minha mão, meu coração parecia bater bem debaixo do meu queixo e o ar não vinha mas tão facilmente. - Eu gosto tanto de você que isso tá me sufocando. Gosto do coque no cabelo e das cores estranhas que você pinta, gosto do tamanho dele. Gosto da cor dos seus olhos, de como seus lábios são finos e de como seu sorriso é sincero e você tem vergonha dele. Gosto de cada detalhe, dos seus vestidos, das botas, das sapatilhas, eu não sei mais explicar Karol, mas eu gosto de você. - E eu que sempre tive tanto medo quanto ele pulei de cima da prancha e beijei ele ali mesmo. Porque eu não ia deixar a vida levar ele pra longe de mim.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Onde toda a beleza do mundo se esconde

Você era o tipo de cara que minha mãe me mandaria ficar longe, mas nunca fui de obedecer mesmo, então quando você se aproximou eu deixei. Deixei porque já te olhava há um tempo sem fim, olhava mesmo, mas você todo sério por trás do cabelo jogado no rosto nem me dava bola.
Decidi deixar pra lá, não ia perder nada mesmo. Pior do que estava não dava pra ficar, mas um dia no auditório bem no fim do semestre você entrou com aquela sua camisa branca com a estampa de uma banda que eu nem conheço, mas adoro ver em você. O lugar do meu lado estaria vago se minha mochila não estivesse lá, mas quando vi você a procura de um lugar tirei gentil e educadamente pra que você pudesse sentar. Então você abriu um sorriso enorme, que nem tinha necessidade e disse que não precisava. Eu na verdade não me importei muito, por mim você sentasse onde bem entendesse, mas achei fofo você sorrir daquele jeito todo espontâneo pra mim.
Não fazia nem ideia de qual era o seu nome, nem iria procurar saber, você era sério demais, sempre com uma expressão sóbria e o cabelo jogado na cara, era charmoso e misterioso demais, do tipo que me atraia e eu tinha sido atraída, mas não ia procurar saber.
Duas semanas depois e eu já nem lembrava mais que a gente fazia uma matéria em comum na faculdade. Minhas amigas me arrancaram de casa e me fizeram ir pra balada. A musica alta, muita gente aglomerada e de longe eu vi você. Estava com uma camisa preta, não esqueço, com outra estampa de banda que como sempre eu não conhecia, sério e o cabelo jogado na cara. "Olha o Eduardo" uma das minhas amigas disse e eu fiquei pensando em que diabos podia ser Eduardo, o entendimento chegou em mim como um soco no estômago enquanto elas me arrastavam na direção em que você estava, você era O Eduardo das minhas amigas. O cara fofo, engraçado, divertido e sensível que elas viviam falando e que eu vivia dizendo que perfeito assim ou era gay ou era feio. Bom, feio eu já sabia que você não era, quanto gay era uma possibilidade a ser discutida ainda. Dois copos de alguma coisa com álcool que as meninas me deram e eu nem sabia o que era e já estava tagarelando com você. Mais ouvindo atenta do que falando, você parecia ter tanta coisa pra contar e eu olhava encantada e levemente alcoolizada pra você, ouvindo você, rindo com você. Comecei a mexer no cabelo, isso era um indicio de que estava interessada em você, esbarradas ocasionais no seu braço e você nada, a ideia de você ser gay martelava cada vez mais na minha cabeça ou talvez só não fazia seu tipo. Embora, se analisasse o que você já havia dito, sobre tipo de mulheres eu bem que me encaixava ali. Então qual era o problema?
Dei fim no meu problema, detesto ter que esperar e você nem dava nem descia, fiquei na ponta do pé, porque a diferença de altura gritava, e beijei você, delicadamente você aceitou o beijo e foi intenso e pra mim pareceu certo, mas algo dentro de mim dizia que não estava, ainda diz até hoje, quase um mês depois algo dentro de mim diz que não estava certo, você me segurou e eu me senti protegida, mas não estava certo de algum modo. O gosto do álcool que estava impregnado nas nossas línguas, do cigarro que estava fraco na sua, do chiclete de morango que eu mascava, eu lembro de tudo, de cada detalhe daquilo, mas não parecia certo.
Duas semanas depois e nós continuamos a nos falar, não voltamos a ficar e o fim do semestre estava ali batendo na minha porta, as malas prontas em cima da cama esperando as meninas virem se despedir de mim, pensei em você, talvez você fosse junto delas se despedir de mim, mas você não foi e eu não te vi mais. Meu intercâmbio estava acabando, um ano longe de casa e eu estava voltando, mas aquilo de beijar você não parecer certo ainda martelava na minha cabeça, ainda martela. Não consigo deixar isso pra lá, porque na hora me pareceu a coisa certa a fazer e se era então porque você não fez antes? Acho que é por isso, não é que não tenha sido certo, só foi errado eu ter que tomar a atitude.
Agora você fica ai do outro lado do oceano, enquanto eu beijo outros caras e não sinto a mesma emoção, não sinto a mesma euforia, não sinto nada. Quando a gente se encontrar outra vez, se a gente se encontrar outra vez, me beija só pra eu saber se é certo, porque aí onde toda a beleza do mundo se esconde atrás do seu cabelo jogado na cara, as coisas poderiam ter sido diferentes.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Tá tudo bem

Sabe cena de filme? Então foi bem desse jeito que aconteceu. Era o horário de almoço e eles estavam no ensino médio, Melina e Bernardo se conheciam a mil anos e ela estava começando a se sentir incomodada com a maneira como ela estava apaixonada por ele. 
O celular dela piscou em cima da mesa enquanto ela lia um papel qualquer, Nova mensagem de Bernardo. "Não vai dar pra ir =/". Eles tinham marcado cinema, bons amigos vão ao cinema juntos certo? E apesar dos pesares, era o que eles eram. Ela respondeu dizendo que tudo bem e foi pro cinema, pelo menos ela prestaria atenção no filme, ao invés de se atrapalhar olhando pra ele, pena que aquele não era o dia de sorte dela, teria sido legal ver um filme legal, prestar atenção, entender e depois contar tudo pra ele.
Antes de comprar o ingresso pro filme Mel foi a praça de alimentação e maldita foi a hora em que decidiu comprar sorvete, logo que entrou na praça de alimentação ela reconheceu de longe a cabeleira dourada de Bernardo, com uma mão com unhas rosa bebê pintadas delicadamente em seu pescoço, instintivamente ela continuou a andar e viu a loira abraçada com ele, não era ninguém de quem ela se lembrasse em especial e então o pior aconteceu, ela o beijou. 
E tudo aconteceu tão rápido depois que Melina não saberia contar com precisão o que havia acontecido. Ela se virou com tanta pressa pra sair dali que esbarrou num garçom com mil bandejas e pratos e tudo aquilo foi pro ar e em seguida pro chão, assim como Melina que com a força com que estava decidida a sair de lá bateu com tanta força no garçom que caiu. Ela pode ouvir as pessoas se virando pra olhar e embora não fosse tão tímida nem tão fofa assim, ficou vermelha. Levantou-se pedindo desculpas ao garçom e em seguida tentou sair de lá. 
Como estava de costas Mel não pode ver que Bernardo a havia visto cair depois de todo aquele barulho causado pelos pratos e logo em seguida ele correu na direção dela. A mão dele a segurou pelo braço quando ela ia saindo depressa.
- Mel. 
- Me solta Bernardo. - ela disse tentando soltar o braço do aperto dele.
- Mel, me escuta. 
- Me. Solta. Bernardo. - ela insistiu tentando segurar as lágrimas que sentia que estavam prestes a escorrer. 
- Mel desculpa. - ele pediu envergonhado.
- Não tenho do que te desculpar Bernardo, agora me solta. - Ela pediu tentando se tranquilizar. 
- Eu sinto muito. - e aquilo foi demais pra ela. 
- Você sente? Pelo que exatamente você sente Bernardo? - ela perguntou deixando as lágrimas virem a tona finalmente.
- Sinto por fazer você chorar. - Ele disse enquanto levava uma mão ao rosto dela para enxugar as lágrimas, mas antes que ele tocasse o rosto dela, ela afastou a mão dele com violência. 
- Não Bernardo, você não sente e quer saber? Tá tudo bem. Eu vou ficar bem. - ela disse puxando o braço e saindo de lá com pressa, os passos firmes coisa que era rara de se ver e as lágrimas ainda escorrendo e embaçando a visão dela, mas ela saiu de lá com um pouco de dignidade, deixou Bernardo lá, olhando pra ela se afastando dele, da vida dele, definitivamente. Ele não pode ver, mas além do joelho dela que sangrou depois dela cair, o coração dela também sangrava.