domingo, 15 de abril de 2012

Luiza e o amor

"Mas e amar? Você já amou?" Luiza não sabia. Achava que não, todas as amigas esqueciam do mundo quando estavam com os respectivos namorados e Luiza sempre andou muito de pé no chão, então não, ela não tinha amado ainda. Mas quando perguntavam sobre amor pra Luiza, ela sempre se lembrou de uma bermuda jeans. Amor pra Luiza era exatamente aquela bermuda jeans e tudo o que ela significava e uma simples peça de roupa significava não ter palavras pra explicar, significava ser um coração gigante prestes a gritar eu te amo para que o mundo inteiro ouvisse e sentisse junto, significava ser toda coração, porque braços e pernas são membros que ela não sabia mais pra que serviam, só estão ali para que ela foque em algo e possa não pensar no coração gigante e pulsante que vira quando vê aquela bermuda jeans. 
Luiza achava que amar era apontar cada um dos defeitos da pessoa e além de achar um charme todos eles, reconhecê-los nela mesma, era gostar, era saber, se saber uma cópia fiel do outro apesar de todas as diferenças e apontar cada uma das semelhanças como se cada uma delas fosse o motivo óbvio para amar uma bermuda jeans.

domingo, 1 de abril de 2012

Inventaria

Eu te invento toda noite, sabia? Toda maldita noite eu crio um detalhesinho novo pra você, um defeito, um cheiro e uma mania. Noite passada decidi que você vai ter um sorriso que só eu vou amar no mundo, um espaçosinho entre os dentes da frente ou quem sabe os dentes bem pequenos como os de uma criança, dentes de sorrisos sinceros, nada de sorrisos de filme que deixam as pessoas sem fôlego, quero um sorriso que me faça querer ficar perto e te respirar inteiro. Vai ter um cabelo meio despenteado meio arrumado, porque você não sabe lidar bem com essas coisas e eu vou amar o seu cabelo do jeito que ele estiver, vamos acordar de manhã lado a lado os cabelos amassados e desgrenhados e estaremos lindos e bucólicos, como pessoas simples que acordam numa manhã fria e cinzenta andando pela casa com pijamas confortáveis. Ah sim, os pijamas serão uma coisa a parte, imagino você com calças de moletom pretas e cinza chumbo, porque você não gosta muito de cores abertas, e ama cinza, Deus, você ama cinza tanto quanto eu, camisas de uma malha puída, possivelmente a camisa de uma banda que você gosta mas está um pouco velha demais pra poder sair na rua com ela, não que você se importe, mas ainda assim...
E aí entram as bandas, sim você gosta de bandas que eu não conheço e vai me apresentar elas, e vamos ouvir deitados  no chão da minha sala enquanto o dia passa e nós só estamos deitados, e eu lerei livros e você encontrará filmes que me farão chorar e me dirá que eles são assim por puro capitalismo, para que os casais comprem presentes para "eternizar-se" na vida um do outro, e me dará presentes depois desses filmes mesmo sendo contra sua politica.
Vou amar todas as sua formas de expressão, amar quando você ficar bêbado, amar muito quando você me abraçar e disser: sou tão apaixonado por você. E eu vou rir constrangida porque você está dizendo isso na frente da sua família e não serei capaz de dizer o  mesmo, não por não sentir, mas por medo de parecer estupida dizendo a você o quanto sou apaixonada por cada detalhe que eu me preocupei em inventar pra você.
Tô te inventando, porque você existe de um jeito absurdamente livre na minha vida, tô te inventando porque eu te amo você existindo ou não.