quinta-feira, 24 de maio de 2012

Sobre Alices e torcidas


E por saber que torcer pra alguma coisa acontecer não funcionava, ela aprendeu que torcer não dava certo pra ela. Todo mundo torcia e conseguia, ela não. Sempre que ela torcia pra um corredor, ele perdia, pra um time, ele perdia, torcia pelo ovo estar bom e ele estava podre, torcia até pra não chover e chovia. A menina ficou cética e ela não gostava dessas coisas que envolviam torcer, torcer era ruim pra ela, enchia ela de expectativa e depois ela desabava desolada, porque ela não tinha mais nada depois. Não gostava também daquela torcida predestinada das novelas, achava tão desesperador ter que gostar do mocinho e da mocinha e torcer para que eles ficassem juntos, “Não existe gente que é boa desse tanto, quando é que vocês vão ver que isso não existe?”, era isso que ela pensava, mas ninguém entendia também, então ela largou a novela de lado, aquilo também não era pra ela. Pra ela era gente, gente deixava ela fascinada, porque gente muda, gente não precisava de torcida, gente precisava que você gostasse ou não, sem predestinações. Ela gostava do frio na barriga quando não sabia o que esperar de alguém, sentia a tensão que era lidar com outras pessoas e era disso que ela gostava, e tinha medo, a menina morria de medo de gente na mesma intensidade que gostava, porque ela dizia que gostar de gente era difícil, porque gente as vezes muda sem dar explicação, sem dar motivo pra uma mudança que machuca e dói no fundo do estomago e do peito, dói como fome que não passa nunca e vai te incomodando, dói tanto que chora. Ela entendia chorar por gente, chorar por torcer não. Pra ela o único sentimento que dava pra ter era por outro ser vivo que muda, ela não entendia os outros sentimentos, não gostava deles e não tinha o mínimo interesse em entender ou gostar. Porque pra ela amar outro ser já era difícil demais, um amor tão doloroso e gigante que ela preferia deixar só para gente.