Ela deslizou a mão pelo braço dele até a mão, onde estava o
cigarro, encaixou o indicador e o dedo médio deixando o cigarro no meio deles e
pegou-o. Já fazia duas horas que estavam sentados ali, na varanda da casa dele,
olhando o mar. Tocava uma musica dentro da casa, Alice decidiu ir escolher
outra e levou o cigarro junto, Henrique só balançou a cabeça em silêncio sorrindo
pelo pequeno furto, ela escolheu uma musica do Caetano Veloso pra tocar e
encheu um copo com o conteúdo de uma latinha de drink que tinha no frigobar.
- Vem dançar comigo essa, Lice. – chamou e ela largou o copo
na bancada.
Uma mão ao redor do pescoço dele, a outra presa na mão dele.
Tinham quase o mesmo tamanho e se moviam como se a vida deles fosse só fazer
aquilo, como se sempre tivessem feito aquilo, todos os dias, por mais raro que
fosse o contato na realidade. A mão dele segurando ela firmemente contra o corpo
e levando ela passo depois de passo, a testa dele procurou a dela e ficaram
dançando colados na sala. Um giro e a mão dele descobriu a barriga dela coberta
pela blusa leve, um sorriso brotou nos lábios e ela se esforçou pra não sorrir também.
- O bom, é que você é leve de guiar. – provavelmente se
referindo a magreza dela.
- Você é uma das poucas pessoas que diz isso, todo mundo
reclama que eu quero guiar.
- Até quer, mas é fácil fazer mudar de ideia.
A falta de plateia deixava Henrique livre pra percorrer o
corpo dela com a mão carinhosa e sutilmente, Alice mal teve consciência da mão
dele descendo quando ele segurou sua perna em um passo e sorriu saindo quando
ele procurou seus lábios, um giro solta e voltou pros braços dele. Era engraçado,
porque era exatamente dessa maneira que se relacionavam, giros soltos e depois
voltavam pros braços um do outro. Henrique, por pura preguiça, deixou a barba
por fazer, ela achava aquilo um charme e lá estava ele com a barba no ombro
dela enquanto deixava beijos delicados por onde passava. Eles não falavam muito
sobre o que tinham, até porque, tecnicamente não tinham nada, mas ela estava nos
braços dele hoje como só conseguia ficar com ele, tinham uma química muito
forte e embora não falassem muito se entendiam facilmente. Alice rodopiou
novamente pra longe do corpo dele fazendo-o ir atrás dela, finalmente o beijou.
Assim, sem cerimônia, sem plateia, sem julgamentos, ela o beijou porque sentia
falta de estar com ele, de estar nos braços dele, beijou porque eram amigos,
namorados e porra nenhuma, beijou ele, porque era ela e ele e porque aquela podia
ser a ultima vez que teriam a oportunidade de ter algo tão puro e sem cobranças
como era aquilo que eles tinham.