domingo, 21 de outubro de 2012

Cajuína cristalina


Ela deslizou a mão pelo braço dele até a mão, onde estava o cigarro, encaixou o indicador e o dedo médio deixando o cigarro no meio deles e pegou-o. Já fazia duas horas que estavam sentados ali, na varanda da casa dele, olhando o mar. Tocava uma musica dentro da casa, Alice decidiu ir escolher outra e levou o cigarro junto, Henrique só balançou a cabeça em silêncio sorrindo pelo pequeno furto, ela escolheu uma musica do Caetano Veloso pra tocar e encheu um copo com o conteúdo de uma latinha de drink que tinha no frigobar.
- Vem dançar comigo essa, Lice. – chamou e ela largou o copo na bancada.
Uma mão ao redor do pescoço dele, a outra presa na mão dele. Tinham quase o mesmo tamanho e se moviam como se a vida deles fosse só fazer aquilo, como se sempre tivessem feito aquilo, todos os dias, por mais raro que fosse o contato na realidade. A mão dele segurando ela firmemente contra o corpo e levando ela passo depois de passo, a testa dele procurou a dela e ficaram dançando colados na sala. Um giro e a mão dele descobriu a barriga dela coberta pela blusa leve, um sorriso brotou nos lábios e ela se esforçou pra não sorrir também.
- O bom, é que você é leve de guiar. – provavelmente se referindo a magreza dela.
- Você é uma das poucas pessoas que diz isso, todo mundo reclama que eu quero guiar.
- Até quer, mas é fácil fazer mudar de ideia.
A falta de plateia deixava Henrique livre pra percorrer o corpo dela com a mão carinhosa e sutilmente, Alice mal teve consciência da mão dele descendo quando ele segurou sua perna em um passo e sorriu saindo quando ele procurou seus lábios, um giro solta e voltou pros braços dele. Era engraçado, porque era exatamente dessa maneira que se relacionavam, giros soltos e depois voltavam pros braços um do outro. Henrique, por pura preguiça, deixou a barba por fazer, ela achava aquilo um charme e lá estava ele com a barba no ombro dela enquanto deixava beijos delicados por onde passava. Eles não falavam muito sobre o que tinham, até porque, tecnicamente não tinham nada, mas ela estava nos braços dele hoje como só conseguia ficar com ele, tinham uma química muito forte e embora não falassem muito se entendiam facilmente. Alice rodopiou novamente pra longe do corpo dele fazendo-o ir atrás dela, finalmente o beijou. Assim, sem cerimônia, sem plateia, sem julgamentos, ela o beijou porque sentia falta de estar com ele, de estar nos braços dele, beijou porque eram amigos, namorados e porra nenhuma, beijou ele, porque era ela e ele e porque aquela podia ser a ultima vez que teriam a oportunidade de ter algo tão puro e sem cobranças como era aquilo que eles tinham.