sábado, 14 de julho de 2012

Fairy Tale


Você era a merda da minha alma gêmea, em tudo, no sorriso espaçado, na pinta, no olhar, nos gestos, na personalidade, eu enfrentaria o mundo por você, mesmo que o mundo fosse apenas a minha família, atravessaria o oceano no voo mais rápido só pra curar sua dorzinha no fundo do peito, daquela saudade que tava te machucando. Seria seu porto seguro, assim como você é o meu. Abriria mão dos sonhos, da riqueza, da monarquia, de tudo o que as pessoas julgassem importante, porque importante mesmo pra mim é você. Nossa casa teria a cara da gente, a cara do sorriso enviesado que eu dou quando mal humorada, combinado com o seu dom de fazer com que eu trema em qualquer decisão. Uma bandeira da Grã Bretanha presa na parede do quarto, porque por algum motivo, a Inglaterra só nos faria mais próximos. Sua prancha de surf encostada em um canto perto de uma bagunça de parafina e roupas de praia, do outro lado mil livros em cima de uma estante: arte, moda, literatura, revistas fúteis porque eu amo ler qualquer coisa.
Nossos filhos, com aquele seu cabelo e seu olhar atento, verde-sinal, prossiga, prossiga, era sempre prosseguindo, nunca pare, pense, nunca reduza... Prossiga. O menino, seu parceiro, a menina é seu xodó, um dengo só, vocês dois. Uma foto grande, emoldurada na sala, de nós dois, a foto do dia do nosso casamento, fiz questão que você usasse chinelos, assim como eu, com um vestido tão fluido que, magra como sou, por pouco o vento não levou tudo na praia aquela tarde, vestido, eu, tenda. Te amei, te amo, vou te amar, do modo mais puro e ingênuo, da mesma maneira como começou, há tantos anos atrás. O menino magricela com a bermuda caindo morrendo de vergonha de uma cueca amostra, que hoje em dia é normal, você não gostava, gostava disso em você, gosto de tudo em você, gosto mais de mim quando estou com você.
Meu coração congelou, Preto, tá congelado aqui dentro e só esse seus olhos verde-sinal é que vão dar jeito no gelo que tá aqui. Parou de tristeza, de dor, de medo de perder o olhar atento, medo de me perder numa manhã numa casa que não é a nossa, tenho tanto medo, Preto, de não ser sua desse jeito que nós dois temos que ser. Eu te amo, Preto, amo aquele menino que você era, amo esse irresponsável que você é, amo você. Pra sempre, porque com você, pra sempre ainda é pouco tempo.

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