quarta-feira, 8 de junho de 2011

Onde toda a beleza do mundo se esconde

Você era o tipo de cara que minha mãe me mandaria ficar longe, mas nunca fui de obedecer mesmo, então quando você se aproximou eu deixei. Deixei porque já te olhava há um tempo sem fim, olhava mesmo, mas você todo sério por trás do cabelo jogado no rosto nem me dava bola.
Decidi deixar pra lá, não ia perder nada mesmo. Pior do que estava não dava pra ficar, mas um dia no auditório bem no fim do semestre você entrou com aquela sua camisa branca com a estampa de uma banda que eu nem conheço, mas adoro ver em você. O lugar do meu lado estaria vago se minha mochila não estivesse lá, mas quando vi você a procura de um lugar tirei gentil e educadamente pra que você pudesse sentar. Então você abriu um sorriso enorme, que nem tinha necessidade e disse que não precisava. Eu na verdade não me importei muito, por mim você sentasse onde bem entendesse, mas achei fofo você sorrir daquele jeito todo espontâneo pra mim.
Não fazia nem ideia de qual era o seu nome, nem iria procurar saber, você era sério demais, sempre com uma expressão sóbria e o cabelo jogado na cara, era charmoso e misterioso demais, do tipo que me atraia e eu tinha sido atraída, mas não ia procurar saber.
Duas semanas depois e eu já nem lembrava mais que a gente fazia uma matéria em comum na faculdade. Minhas amigas me arrancaram de casa e me fizeram ir pra balada. A musica alta, muita gente aglomerada e de longe eu vi você. Estava com uma camisa preta, não esqueço, com outra estampa de banda que como sempre eu não conhecia, sério e o cabelo jogado na cara. "Olha o Eduardo" uma das minhas amigas disse e eu fiquei pensando em que diabos podia ser Eduardo, o entendimento chegou em mim como um soco no estômago enquanto elas me arrastavam na direção em que você estava, você era O Eduardo das minhas amigas. O cara fofo, engraçado, divertido e sensível que elas viviam falando e que eu vivia dizendo que perfeito assim ou era gay ou era feio. Bom, feio eu já sabia que você não era, quanto gay era uma possibilidade a ser discutida ainda. Dois copos de alguma coisa com álcool que as meninas me deram e eu nem sabia o que era e já estava tagarelando com você. Mais ouvindo atenta do que falando, você parecia ter tanta coisa pra contar e eu olhava encantada e levemente alcoolizada pra você, ouvindo você, rindo com você. Comecei a mexer no cabelo, isso era um indicio de que estava interessada em você, esbarradas ocasionais no seu braço e você nada, a ideia de você ser gay martelava cada vez mais na minha cabeça ou talvez só não fazia seu tipo. Embora, se analisasse o que você já havia dito, sobre tipo de mulheres eu bem que me encaixava ali. Então qual era o problema?
Dei fim no meu problema, detesto ter que esperar e você nem dava nem descia, fiquei na ponta do pé, porque a diferença de altura gritava, e beijei você, delicadamente você aceitou o beijo e foi intenso e pra mim pareceu certo, mas algo dentro de mim dizia que não estava, ainda diz até hoje, quase um mês depois algo dentro de mim diz que não estava certo, você me segurou e eu me senti protegida, mas não estava certo de algum modo. O gosto do álcool que estava impregnado nas nossas línguas, do cigarro que estava fraco na sua, do chiclete de morango que eu mascava, eu lembro de tudo, de cada detalhe daquilo, mas não parecia certo.
Duas semanas depois e nós continuamos a nos falar, não voltamos a ficar e o fim do semestre estava ali batendo na minha porta, as malas prontas em cima da cama esperando as meninas virem se despedir de mim, pensei em você, talvez você fosse junto delas se despedir de mim, mas você não foi e eu não te vi mais. Meu intercâmbio estava acabando, um ano longe de casa e eu estava voltando, mas aquilo de beijar você não parecer certo ainda martelava na minha cabeça, ainda martela. Não consigo deixar isso pra lá, porque na hora me pareceu a coisa certa a fazer e se era então porque você não fez antes? Acho que é por isso, não é que não tenha sido certo, só foi errado eu ter que tomar a atitude.
Agora você fica ai do outro lado do oceano, enquanto eu beijo outros caras e não sinto a mesma emoção, não sinto a mesma euforia, não sinto nada. Quando a gente se encontrar outra vez, se a gente se encontrar outra vez, me beija só pra eu saber se é certo, porque aí onde toda a beleza do mundo se esconde atrás do seu cabelo jogado na cara, as coisas poderiam ter sido diferentes.

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